O problema da "normalização da ultradireita" começa e termina no desejo do eleitor, mas é também uma questão de debate público e de organização política. Quando a população de um país identifica uma plataforma radical como melhor opção de governo, a escolha está feita. Ela não deixa de ser radical nem passa a ser admitida com menos resistência.
O mundo já mostrou que programas que incluem a redução de controles democráticos ou a violação de direitos humanos são capazes de obter apoio eleitoral majoritário. A necessidade de compreendê-los como fenômenos de massa, sancionados pelo voto, não deveria ser suficiente para que sejam encarados como uma opção qualquer.
A objeção feita na arena pública costuma ser uma tentativa de convencer o eleitor a não abandonar valores morais mínimos ou não aceitar determinadas ideias como um mal menor. Nas elites partidárias e institucionais, a crítica representa um gatilho para ações de coordenação política que, em geral, têm o objetivo de isolar grupos radicais.
O erro grosseiro dos adversários da ultradireita é que a maior parte se recusa a compreendê-la como um fenômeno de massa. Para piorar, ainda revertem contra si aquele esforço de isolamento a partir do momento em que entregam a seus rivais o monopólio de temas como segurança ou imigração.
A normalização oferece à ultradireita a possibilidade de apresentar soluções radicais como itens aceitáveis do cardápio político, avalizados por uma demanda popular. Condenar esses programas, por outro lado, é uma maneira de impor um custo a candidatos que os adotam e, principalmente, dar respaldo às instituições que podem conter seus abusos.
Bruno Boghossian
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