terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Tragédia que se repete

Há mais de 30 anos passei férias em Barra do Sahy, hoje duramente atingida pelas chuvas no litoral norte de São Paulo. O lugar é lindo, lembra o litoral do Vietnam, montanhas, florestas, rio e mar. Lindo realmente, mas chove. Chove muito e muitos pobres moram nas encostas como acontece em todo o Brasil. Nos 30 dias que passei por lá choveu durante 25, pelo menos. Choveu tanto que a parede da casa foi escurecendo de humidade. A uma certa altura comecei a ir para a praia com chuva mesmo.

Durante os poucos dias que amanhecia sem chuva ficávamos olhando para as montanhas tentando adivinhar de qual delas ia surgir a primeira nuvem. Tenho amigos que têm casa em Maresias, ali ao lado e eles relatam as chuvas como elementos da natureza presentes à região. Agora, com a tragédia acontecida pensamos, são tantos anos, a natureza tão teimosa e repetitiva e nada foi feito diante do que acontece com maior ou menor intensidade todos os anos. O Brasil é um país tropical, abençoado por deus(?) e bonito por natureza, mas chove justamente por isso e porque a benção de deus é uma coisa não confiável.


Barra do Sahy, Bahia, Rio de Janeiro, Petrópolis é tudo igual. A natureza faz parte do país. É preciso pensar nela para evitar desmatamento, genocídios e mortes dos habitantes em qualquer lugar, vítimas de natureza que se repete. E as autoridades só olham.

Isso não é seleção natural, nem vontade de deus. Isso é desleixo, falta de vontade política, inércia e crime. Quando veremos obras estruturais que não atraem a atenção nem votos, mas que evitam mortes? O povo precisa comer, ter trabalho e morar num lugar seguro. Isso é fundamental. Não basta só ajudar depois que acontece. Isso é o básico. É importante que não aconteça.

Chover pode até diminuir se desmatarmos menos o ambiente. Mas, vai continuar só que nem toda a chuva deve destruir e matar. As pessoas precisam morar em lugares decentes, não os que sobram. Somos um país pobre, sim, mas também por causa disso. Banco central, juros, inflação são temporais que matam lentamente e só pioram as condições de quem mora em áreas de risco.

O Brasil está virando uma enorme área de risco. Será que vamos sobreviver ou estamos juntando todos os pobres, indígenas, negros e flagelados num mesmo projeto de genocídio por descaso e desprezo.

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