Nesta coluna inaugural cito alguns trabalhos de economistas que se dedicaram a investigar a relação entre educação, desenvolvimento social e o crescimento econômico, sem pretensão de esgotar o debate que atravessa vários campos de saberes.
Em artigo de 2009, Eric Hanushek e Ludger Woessmann apontaram que maiores níveis de escolarização e da qualidade do ensino — medidos no Pisa, exame internacional da OCDE — geram maior crescimento econômico.
Em 2018, quando esteve aqui, Hanushek estimou que se todos os jovens completassem o ensino médio com qualidade, o PIB brasileiro seria elevado em 16%, e os salários médios seriam 30% maiores.
Investimentos que garantam a permanência na escola e uma educação com altas expectativas e qualidade para todos geram retornos além dos mensurados em testes ou indicadores econômicos.
Estudos de James Heckman, Nobel de Economia em 2000, e de vários pesquisadores demonstram que programas bem desenhados e implementados para a primeira infância têm impacto duradouro em toda a vida adulta, reduzindo taxas de criminalidade e gravidez precoce não planejada e aumentando a conclusão do ensino médio, empregabilidade e a renda do trabalho.
Considerando esses impactos mais amplos, Ricardo Paes de Barros e coautores estimam que o Brasil perde R$ 214 bilhões por ano por causa da evasão escolar. Naércio Menezes Filho e Luciano Salomão mostraram que cidades em que mais estudantes completam o ensino médio com melhores notas no Enem apresentam maior redução em homicídios entre jovens, aumento de matrículas no ensino superior e geração de empregos para essa faixa etária.
Mais ainda, a educação tem enorme potencial de redução da pobreza e das desigualdades, como indicam diversos estudos de Esther Duflo e Abhijit Banerjee, Nobel de Economia em 2019.
Vale lembrar que, além dos retornos econômicos e sociais, a garantia de educação de qualidade para todos é um direito constitucional. E na quadra atual — marcada pelo aumento da desigualdade interna e entre países; pela expansão de movimentos e governos autoritários que põem em xeque a democracia; pelo crescimento de movimentos anticiência; e pelos desafios da emergência climática e ambiental — trata-se também de um imperativo ético.
Nesse sentido, Amartya Sen, Nobel de Economia em 1988, vincula a expansão das liberdades substantivas e das capacidades individuais às possibilidades concretas de desenvolvimento. Ao propor uma visão de “desenvolvimento como liberdade” indica caminhos transformadores e opostos aos modelos que percorremos em nossa História, mais marcada pelo que eu denominaria de desenvolvimento como exclusão.
Nossas recorrentes opções pelo crescimento econômico esvaziado de sentido humano e dissociado do compromisso com a equidade, a mobilidade social e a responsabilidade socioambiental colocam a sociedade brasileira em estado de suspensão, na condição de um eterno vir a ser.
Sem uma educação que garanta o desenvolvimento pleno e integral dos estudantes, com as competências cognitivas, socioemocionais, morais e éticas aderentes aos desafios da sociedade contemporânea do conhecimento, consolidaremos uma restrição estrutural das potencialidades não só dos indivíduos, mas também do país.
Não podemos seguir negligenciando a educação, nem permitindo que o Brasil reproduza suas desigualdades, com concentração de oportunidades e a naturalização do abandono dos vulneráveis.
Decidir como será a nossa educação significa decidir também quem queremos ser e aonde queremos chegar. É a partir da garantia de uma educação de qualidade — e qualidade só faz sentido se for para todos — que teremos melhores cidadãos e profissionais, um ambiente politicamente mais estável e maduro, socialmente mais virtuoso e criativo, e economicamente mais dinâmico e produtivo.
A mudança é urgente e só vai acontecer a partir de um grande esforço coletivo pela educação. Iremos nos engajar? Como vamos colocar energia, talento e recursos nessa transformação?
Nenhum comentário:
Postar um comentário