terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Direita não sabe para onde correr

O conservadorismo no Brasil sorriu e soltou fogos entre 2016 e 2018. Assistiu ao impeachment de Dilma e à posse do ministério de Temer. Veio a eleição de 2018 e a esquerda foi derrubada no voto. Lula preso pelo futuro ministro da Justiça, e daí? A direita assumia o poder, ainda que liderada por um ex-capitão chucro, que só tinha espaço nos extintos programas CQC e Luciana Gimenez. O comunismo, seja lá o que isso signifique, estava enfim derrotado.

Passaram pouco mais de cinco anos do impeachment. Eduardo Cunha foi preso, Aécio desapareceu, o PSDB desmanchando nas mãos de Doria, as pedaladas fiscais se tornaram lei. Os personagens do impeachment foram engolidos pelo bolsonarismo e tornaram-se reféns nas eleições de 2018.


Desde que a família de milícias e rachadinhas tomou Brasília, só se ouve o som dos botes deixando o navio. Primeiro por falta de espaço no governo ou “decepções ideológicas”. Veio a pandemia e o negacionismo do presidente ofendeu qualquer cidadão com um mínimo de bom senso. Enfim, em 2021 Bolsonaro consolidou sua volta ao Centrão. O eleitor conservador, bolsonarista de ocasião, sentiu o baque. Sente mais vergonha de defender Bolsonaro do que dizer que seu plano é Prevent Senior por um desconto na farmácia.

Seja com Bolsonaro, Moro, Doria ou Tebet, o que a direita tem a dizer nas próximas eleições presidenciais? O antipetismo é o que sobrou, com as lembranças do mensalão, petrolão e a crise econômica durante Dilma. Há o tema da segurança, mas muito mais local do que nacional – a esquerda simplesmente ignora o assunto e a direita tem trânsito livre, com policiais eleitos por todo o país.

Corrupção? Consegue imaginar Bolsonaro enfurecido em um debate tentando explicar as rachadinhas, os gastos do cartão corporativo, o orçamento secreto? A Lava Jato é capa de jornal velho ou de sua própria imprensa, boa de rede social, mas ruim de rua. Moro, se mantiver a candidatura, vai sofrer quando as campanhas de seus adversários oferecem ao grande público os detalhes de sua atuação como juiz e seu trabalho como “consultor” nos EUA.

Privatizações e responsabilidade fiscal são argumentos para os leitores da seção de Economia. Crescimento e emprego é o que todo mundo quer ouvir, mas todos os candidatos dirão o mesmo exatamente porque não têm nada a dizer.

Com a rejeição de Bolsonaro crescente, Moro empacado e Doria não ganhando nem para síndico em São Paulo, a desinformação das fake news se transformou na única arma da direita para as eleições deste ano.

O ciclo do PT se estabeleceu com um discurso de direitos sociais em contraposição aos governos FHC. O ciclo do bolsonarismo foi a voz do moralista anticorrupção. Esgotou-se em pouco tempo. Podemos viver o que a Espanha vivenciou por décadas. Direita e esquerda sem líderes ou discursos renovados, alternando-se no poder ao sabor de seus próprios fracassos econômicos.

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