quinta-feira, 2 de setembro de 2021

O que vai acontecer no Brasil nos próximos dias?

Na última terça-feira, dia 31, Tom Phillips, o correspondente para América Latina do jornal inglês The Guardian, lançou ao Twitter uma mensagem desesperada:“Can someone, pelo amor de Deus, please tell me what on earth is going to happen in Brazil in the next seven days?”

Entendi que, ao pedir que alguém lhe esclareça o que vai acontecer no Brasil nos próximos sete dias, ele não espera um exercício de futurismo, mas uma explicação lógica. Tom não é um principiante. Ele trabalha há quase 15 anos como correspondente estrangeiro, foi chefe de sucursal na China e já cobriu de tudo, de terremoto no Haiti a tufão nas Filipinas, de manifestação em Hong Kong a eleições no México. A questão é que nem alguém com a sua experiência consegue mais lidar com o Brasil, em que é “Vixe!” em cima de “Eita!” 24 horas por dia, fins de semana inclusive.


Acompanhei o tuíte para ver se, por acaso, aparecia alguma luz. Eu também gostaria que alguém me dissesse o que raios vai acontecer por aqui nos próximos dias. Não rolou.

“Não fazemos planos para o futuro”, respondeu @Cardoso.

“Conseguimos previsões de, no máximo, 7 minutos. Sorry”, escreveu @SamPancher.

“Boa. Próximos sete não sabemos. Mas depois do dia 8 vai ter cada nota de repúdio que você nem imagina...”, previu @lesalles.

“Ainda não entendi o que aconteceu nos últimos sete”, constatou @gustavo_spier.

Foram 268 respostas durante as três horas em que segui o tuíte, mas nada nos trouxe qualquer esclarecimento (nem Deus, que atende por @OCriador, ajudou).

“O presidente não vai trabalhar durante seis dias, e descansará no sétimo”, concluiu @salvadormor_tt.

A gente ri, mas é de nervoso.

Não respondi ao apelo de @tomphillipsin. Não tinha nem boa resposta, nem bola de cristal à mão. A verdade é que, no fundo, confio na incompetência e na falta de ambição do presidente. Acho que, ao longo dos próximos dias, vamos ver mais do mesmo — o que não é pouco, e pode ser perigoso, sobretudo se torcidas antagônicas ocuparem os mesmos espaços.

Mas golpe? Golpes precisam de ambiente propício, de um elemento de surpresa e de alguma inteligência por trás, coisas que não existem no caso. 

Ainda assim, ter na presidência um homem tão prejudicado intelectual e emocionalmente é um risco enorme para a democracia. Um golpe não é a única ameaça que existe à vida saudável de um país; o estado de insegurança permanente em que vivemos, a tensão constante, as crises armadas a partir do nada — tudo isso corrói o tecido social e impede a paz.

O presidente não tem noção do que seja “paz”. O conceito é abstrato demais para ele, um homem atormentado, em luta consigo mesmo, que não concebe a vida sem ressentimento e conflito.

Mais do que os próximos sete dias, me preocupam de verdade os próximos 484, que é o tempo que ainda falta até o fim do mandato. Se ninguém tomar uma providência antes disso, vamos viver até janeiro de 2023 nesse sobressalto, míseros personagens do jogo de um cretino que sonha com guerra civil.

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