sexta-feira, 19 de março de 2021

Devemos perdoar os arrependidos?

Tenho visto na imprensa, nos últimos dias, muitos bolsominions arrependidos. Direta ou indiretamente, pessoas que com seu voto acabaram ajudando Bolsonaro a se eleger e a perpetuar essa crônica de uma morte anunciada em Brasília. Tudo bem, melhor ter arrependidos do que entusiastas empedernidos e insistentes. Esses ainda existem e continuam com a sua violência a tocar o terror no país. Mas tem muita gente de olho também e apesar da agressividade têm sido peitados pelas instituições democráticas que ainda resistem.

Mas o que nos interessa hoje são os arrependidos ou os disfarçados, aqueles que fingem que não tiveram essa importância assim na eleição e que, por conta de um antipetismo cego, acabaram perdendo a própria visão e elegendo o diabo. Claro que se arrependem. Quem é do mercado também começa a ver que nem todos os fins justificam os meios. Acabam ficando pelo meio do caminho e nem lá nem cá, perdem dinheiro. Lula e o PT nunca trabalharam contra o mercado. Cometeram até muitos erros em flexibilizar a política em prol dos investimentos. Delfim Netto e FHC são dois desses arrependidos. O Zema e o Amoedo, do Novo, apesar de ainda compararem Bozo e Lula, sabem muito bem que a história não é essa. Mas pega mal mudar assim de opinião tão rápido. É tudo uma questão de tempo.


Bolsonaro nunca enganou ninguém. Desde o começo de sua carreira e para isso é interessante ouvir o podcast Retrato Narrado, da Radio Novelo, que conta a trajetória do capitão. Nada surpreende, só choca. Sua carreira de deputado é a confirmação do nada assalariado pelo poder público. O mesmo comportamento que vemos hoje como presidente só que saindo muito mais caro para o país. No golpe contra a Dilma confirmou o que já vinha dizendo antes. Era a favor da tortura. Como pode então, alguém que se diz democrata, liberal, esclarecido e fazendo parte da elite eleger este homem com o voto direto ou a negação do voto no PT? Achavam que ele ia de repente mudar de ideia, flexibilizar sua posição política?

A Dra. Ludhmilla é o exemplo mais recente desta cegueira. Foi a Brasília a convite do rei talvez movida, antes de tudo, pela vaidade, uma vaidade equivocada, convenhamos. Depois, na sua “ingenuidade” achou que podia convencer o Jair a mudar de copo pra balde. Nada feito. Foi agredida por milicianos bem informados de seus deslocamentos, humilhada no próprio gabinete do presidente que empacotou junto o centrão que a levou ao encontro.

Muita confirmação num mesmo gesto. Será que a Dra. Ludhmilla, que não sua omissão política cantou para a Dilma, abraçou o Caiado e tratou de muita gente boa, não sabia quem ela estava indo visitar? Ela não lê jornais, não ouve noticiários? Ela se parece com a Damares que aceita um governo misógino? Ela fecharia os olhos para essas barbaridades em prol de uma política sanitária mais eficiente? Aí sim, seria ingênua. Ela não é do mercado, não tem interesse político em princípio só estaria colocando sua vaidade e sua disponibilidade em prol da saúde dos brasileiros. Mas viu que não deu certo e saiu de Brasília com medo e espero, com uma lição aprendida.

E que essa lição sirva também para todo os arrependidos. Talvez, o preço a ser pago por essa atitude equivocada em relação ao Bolsonaro que resultou nessa tragédia, leve muito mais tempo para ser revertida. Talvez o prejuízo seja imenso, mas nunca é tarde para reverter o quadro. Enquanto houver vida há esperança, dizem eles mesmos.

Ok, aceitamos, mas tenham coragem de assumir que não só erraram, mas devem trabalhar para derrubar quem ajudaram a eleger. Assumir quem for capaz de vencer essa onda podre que nos assola e sair com a mesma força de antes às ruas, reais ou virtuais, para mudar esse quadro apoiando quem puder derrubar o governo fascista do Bolsonaro. Ai sim, estarão todos perdoados por mim. E pela História. Na boa.

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