terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O pai dos Bolsonaro tchutchucas é o Centrão e a mãe é a Joana

A Câmara dos Deputados é a casa do povo, onde ele se faz representar nos seus interesses de classes, grupos e profissões, cujo denominador comum devem ser as aspirações nacionais comuns; o Senado Federal é a casa dos estados, onde as aspirações nacionais comuns se colocam acima dos interesses dos diferentes segmentos da população, mas sempre em consonância com o pacto federativo. No sistema bicameral, um e outro funcionam como peso e contrapeso na elaboração das leis.

No Brasil, infelizmente, a Câmara e o Senado se tornaram a casa daquela mãe de filhos cujo único objetivo é defender e aumentar o seu próprio quinhão e o das camarilhas à qual pertencem. A mãe, no caso, é a Joana. Câmara e Senado nunca foram grande coisa na Nova República, eleitos que são por um maioria de pobres diabos que funcionam como massa de manobra, para além dos alienados que se recusam a estabelecer conexão causal entre o que vai por Brasília e as próprias vidas. Ambas as casas se deterioraram de tal forma desde o início do século, contudo, que a exceção criminal e o simples folclore de ontem passaram a ser regra hoje. Cabe até assassina. Pioramos de povão? Pioramos de classe média? Pioramos de elite? Talvez a deterioração legislativa espelhe mesmo um declínio geral. Especulo.



Fato é que temos agora uma Câmara presidida por um investigado por corrupção em dois processos e que sempre esteve do lado errado do balcão, o senhor Arthur Lira. No Senado, um parlamentar de primeira viagem, sem nenhum projeto de lei aprovado e mais preocupado em defender os seus interesses privados no mercado de ônibus, aquele mesmo que castiga cotidianamente os mais pobres, é quem dá as cartas como poste de espertalhões mais tarimbados. É o senhor Rodrigo Pacheco. Nada disso é exatamente novidade, mas vai de encontro às expectativas de renovação que parte dos brasileiros começaram a nutrir depois da Lava Jato. Que as aspirações nacionais sejam esquecidas de vez: os apetites do Centrão, do qual ambos são representantes e que mantém o presidente da República como refém, são a única coisa a ser saciada. Arthur Lira, aliás, não demorou a mostrar a que veio logo no seu primeiro ato, ao anular uma decisão do seu antecessor, para tentar afastar partidos adversários da composição da mesa diretora da Câmara. O Centrão quer tudo.

É esse esfaimado Centrão que tem como refém e cúmplice o presidente da República que, por ironia sádica do destino, elegeu-se prometendo acabar com o fisiologismo traduzido como “tomo lá dá cá”. Que arrebanhou votos em 2018, apesar da sua mediocridade como parlamentar e do seu discurso maluco, ao afirmar que apoiaria e ampliaria a Lava Jato — mas acabou se juntando alegremente a fisiológicos e corruptos, para exterminar a operação que inspirou e deu esperança a milhões de brasileiros. Constatou-se, afinal de contas, que ele apenas retornava àquela que sempre foi a sua famiglia.

Ontem, na vergonhosa eleição para a presidência da Câmara, o deputado Kim Kataguiri, protagonista de uma candidatura de protesto, vocalizou da tribuna a indignação aqui fora. Chamou Bolsonaro e seu filhos de “família de quadrilheiros, vagabundos e corruptos” e calou a boca de Eduardo Bolsonaro, que esboçou uma reação no plenário: “Me processa e ganhe na Justiça. Não tem culhão para isso. Tem culhão para ficar falando na internet. Chega no plenário é tudo tchutchuca do Centrão, é tudo venda de voto.”

O pai dos Bolsonaros tchutchucas é o Centrão e a mãe é a Joana. A casa do povo e a casa dos estados foram dominados e dominam o Palácio do Planalto.

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