terça-feira, 4 de agosto de 2020

A morte banalizada

Maldita pandemia. Nesse turbilhão, Lúcia se foi. Sem despedidas. Não foi a Covid que a levou, mas a peste restringiu a vida. Não pude dizer adeus. O choro é contido. Nos últimos dois anos, o Alzeihmer a transportou para longe. Suportou a ausência, as deslembranças, a anestesia do corpo e da alma. Como herança, generosidade e alegria. Minha irmã, minha melhor amiga.

O luto na nossa rotina.

Maldito governo. Inconsequentes, autoridades brincam com a morte. Tornam insignificantes a vida de milhares de pessoas. Já são quase 100 mil brasileiros que se foram. Tempos amargos. Dolorosos.

A pandemia está viva no mundo. Alarmante no Brasil. Milhares de pessoas desprezam o perigo e brincam com a peste. Aglomeram, vestem as máscaras do deboche. Imitam Bolsonaro, rei da cloroquina e das fakenews.

Pessoas de bem. Não sabem da luta pela vida de outros milhares de brasileiros internados em hospitais, em UTIs, entubados, literalmente sem ar. Depoimentos compungidos de familiares, filhos, esposas e maridos doem na alma. Seguir a vida, e ele está lá, entre a luz e a escuridão.

Lá se vão cinco meses. Tempo em que o Presidente da República fez o que pode para estender o flagelo. Tivesse levado a sério, estaríamos livres da pior calamidade que se alastrou pelo mundo nos últimos cem anos.

A única saída para o Brasil (países com intensa transmissão comunitária)  seria forte parceria entre governos federal, estaduais e municipais e o engajamento da sociedade, disse a OMS.

Puro delírio. Quem disse que há no Brasil governantes preocupados em cessar essa tragédia?

Já somos campeões da pandemia. Ganhamos dos Estados Unidos. Dois Presidentes negacionistas, levianos, frívolos diante de tal catástrofe humana. Deles, queremos distância. Jamais sentiremos falta.

Lúcia, saudades infinitas.
Mirian Guaraciaba

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