quinta-feira, 14 de maio de 2020

Brasil precisa de novos generais, os três que depuseram estão com prazo de validade vencido

Quando li as reportagens sobre o teor dos depoimentos dos três generais do Planalto, lembrei a refilmagem de “Perfume de Mulher”, com as últimas cenas passadas no auditório do requintado colégio norte-americano, que se orgulhava de “formar líderes”. Havia um processo administrativo em curso, e os estudantes que testemunharam o fato davam desculpas para não revelar o que acontecera, tipo “Esqueci de colocar as lentes de contato…”, e por aí afora.

Os três ministros-generais que depuseram nesta terça-feira certamente não assistiram a esse clássico do cinema italiano, de Dino Risi, que o cinesta Martin Brest refilmou em Hollywood e garantiu o Oscar para Al Pacino. Se tivessem assistido, não fariam papel feio ao prestar depoimento na Polícia Federal.

No Planalto, são quatro mosqueteiros, que formam a ala militar – um da reserva (Augusto Heleno), que funciona como líder, e os outros três ainda na ativa (Braga Netto, Eduardo Ramos e Rêgo Barros).

Dois quatro, apenas dois efetivamente trabalham – Augusto Heleno, no Gabinete Institucional da Presidência; e Braga Netto, na Casa Civil. O terceiro general, Eduardo Ramos, nada faz. Hipoteticamente, seria responsável pela Articulação Política do Planalto, mas isso é algo que não existe. E o quarto mosqueteiro, Rêgo Barros, é aquele porta-voz invisível, que também nada faz e acompanha Ramos no “dolce far niente”, como dizem os italianos.

O porta-voz está licenciado com aquela “gripezinha” do Bolsonaro e os outros três tiveram de depor no inquérito que o procurador Augusto Aras move contra o ex-ministro Sérgio Moro por ordem do presidente Bolsonaro, que o acusa de denunciação caluniosa e mais seis crimes.

Ao saber que os três generais iam depor, como testemunhas de defesa de Moro, fiquei pensando nos meus exemplos de militares. Os mais próximos eram o general Antonio Carlos Zamith, meu padrinho de batismo, e seu irmão, general Alberto Zamith, também grande amigo de meu pai. Mais distantes, o major gaúcho Plácido de Castro, o maior herói brasileiro, conquistador do Acre, e o marechal Teixeira Lott, o legalista democrático.

Para mim, quatro exemplos marcantes de militares. E fiquei imaginando como se comportariam se tivessem de prestar depoimento nesse imbróglio bolsonariano.

A meu ver, para qualquer cidadão, é feio dizer coisas assim, interpretando e amoldando os fatos: “O presidente não estava falando sobre relatórios da Polícia Federal, mas sobre relatórios da Abin”; “Em momento algum notei isso”; Não me recordo de nada sobre isso”; “O presidente falava genericamente…”.

O mais incrível é que nenhum dos três mosqueteiros lembrou que naquela reunião Augusto Heleno defendeu Moro e disse que Bolsonaro não tinha direito a relatórios sobre inquéritos da PF. Aliás, nem o próprio Heleno recordou, disse que tinha de rever o vídeo para lembrar o que havia dito, vejam a que ponto chegamos.

Tentei imaginar nessa situação qualquer um dos quatro militares que citei como exemplos. E tenho certeza de que os irmãos Zamith, Plácido de Castro e o general Lott jamais se comportariam assim, saindo pela tangente, como dizem os professores de Geometria.

Em tradução simultânea, perdi a confiança nessa ala militar do Planalto. Mas continuo tendo certeza de que no Brasil há militares que não são assim amoldáveis. Certamente, esses três que depuseram estão com prazo de validade vencido. Deve ser isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário