É sobretudo um divertimento que consiste em formar outra palavra com as mesmas letras. Convém que a nova palavra traga chispa de espírito. Há tempos falei aqui de palíndromo, que pode ser lido de trás para diante. O mais conhecido é "Roma me tem amor". Foi uma surpresa o interesse dos leitores, que me mandaram várias contribuições. O Antonio Carlos de Oliveira me enviou de São Paulo um texto em francês com mais de cinco mil palíndromos!
Não me foi difícil transformar o caos em caso, saco, asco, ocas. E soca – sabe o que é? Levar uma soca, ir na soca. Resolvi partir então para um palíndromo, juntando ao caos algumas palavras em evidência. E uns poucos nomes próprios da atual cena política. Nisso, abro a revista Domingo do Jornal do Brasil e dou com o Luís Fernando Veríssimo. Um craque, que além de escrever, desenha. Estava lá a cara do Brasil e o caos decomposto assim: "Cá só/ asco,/ caos.../ saco!". Desisti do meu palíndromo e passo à sugestão adiante.
Quem gosta de palavras cruzadas, charadas e enigmas pode se divertir com o anagramatismo. Já foi verdadeira mania na Inglaterra, na França, na Alemanha. O latim e o grego se prestam muito a esse jogo e ostentam exemplos antológicos. No castelhano, um doido chegou a escrever uma novela capicua, que pode ser lida de trás para diante da primeira à última palavra. Convém não exagerar. Comece por desmanchar palavras como crise e catástrofe, sozinhas ou acompanhadas.
Repito que não basta trocar as letras de lugar até que se forme outra palavra. O toque de humor é fundamental. Assim como o caos vira saco, certos nomes de figurões, feito o anagrama, desvendam o seu segredo e até o seu ridículo. Quem quiser tente também o verso anacíclico, de maior sabor lúdico. Deixo aqui a sugestão. Pode não resolver a crise, mas não vai agravá-la. Um simples anagrama transforma o Brasil em libras. Não é fantástico? Um pequeno esforço e você encontra dólares, ouro e tudo mais.
Otto Lara Resende, Folha SP, 6/10/1991
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