sábado, 1 de junho de 2019

Um triunfo tão perto do desastre

Nas recentes eleições para o Parlamento Europeu, a bancada ecologista saiu vitoriosa, subindo de 52 para 69 deputados, num total de 751, e transformando-se na quarta maior força do hemiciclo. Até agora eram a sexta. Na Alemanha, os Verdes ultrapassaram os sociais-democratas, elegendo 21 deputados. No Reino Unido, elegeram onze. Na França e na Finlândia os ecologistas conseguiram, respectivamente, o terceiro e segundo lugar. Em Portugal, um pequeno partido, o PAN (Pessoas Animais Natureza), que se tem distinguido sobretudo no combate contra a caça, as touradas e a utilização de animais nos circos, e que até agora muitos analistas encaravam com um sorriso trocista, conseguiu eleger um deputado.

Esta onda verde parece ser uma boa notícia. Sugere uma pequena mudança de percurso num mundo entalado entre duas grandes potências, os EUA e a China, que desprezam as políticas ambientais. O desdém do atual presidente americano, Donald Trump, em relação aos esforços para conter o aquecimento global vem reforçando e multiplicando os inimigos do meio ambiente no planeta. Entre eles, está o governo de Jair Bolsonaro.


O triunfo dos Verdes no seio da União Europeia é, ao menos em parte, consequência direta do despertar da juventude para a causa ambiental. Nos últimos meses, a principal novidade política, na Europa e no mundo, foram as grandes manifestações de estudantes, em milhares de cidades, um pouco por todo o planeta, em defesa do clima e da preservação da vida e da sua diversidade, num movimento não partidário criado por uma jovem sueca, Greta Thunberg, de apenas 16 anos.

É, infelizmente, um despertar tardio. Acresce que as eleições europeias confirmaram também a afirmação de uma direita e extrema direita contrárias a todas as políticas de proteção do ambiente. Receio, pois, que a cegueira prevaleça sobre o bom senso. A Terra é o Titanic prestes a colidir com um iceberg. Já se avista a superfície do mesmo — uma imensa montanha de lixo, produzida por todos nós; contudo, uma boa parte dos passageiros ainda insiste na ideia de que o navio aguenta muito bem o embate. Há até quem assegure, sorrindo, que o iceberg não existe. Pouco importa as multidões que gritam no convés. O barco continua a sua marcha suicida.

Os alheados que dançam nos salões enquanto o navio avança para o desastre são, talvez, mais felizes do que aqueles que gritam e protestam, em pânico, tentando alertar quem está no comando. No fim, naufragaremos juntos. Uns morrerão a dançar e a beber. Os outros, os lúcidos, talvez até morram antes, de susto, de frustração e de furor.

Em todo o caso, prefiro estar entre estes últimos. Quero acreditar que esta pequena mudança de rota na Europa seja o início de um movimento de viragem muito mais amplo, mais sólido, mais sustentado, que logo repercutirá noutras latitudes, em especial naqueles países, como os Estados Unidos e a China, com maiores responsabilidades na destruição do planeta. Não nos resta muito tempo. Entretanto, eu vou para o convés: gritar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário