quinta-feira, 16 de maio de 2019

Cego pro próprio rabo

"Idiotas úteis, uns imbecis", foram às ruas com a cara e a coragem de mãos limpas para enfrentar a cavalaria fardada da ditadura em 1968. Os valentões armados se vangloriavam de espancar "legalmente" gente desarmada e despreparada para o enfrentamento. Viraram pó na história e os espancados, os verdadeiros ícones de uma época.

Outros "idiotas úteis, uns imbecis", décadas depois, voltariam às ruas de cara pintada e, mais bem sucedidos, ajudaram na derrubada de um presidente. O valentão Salvador da Pátria renunciou antes de ser derrubado do trono por uma "massa de manobra".

Em nenhum dos dois momentos os estudantes foram tão achincalhados como idiotas e imbecis, como se tornou marca registrada do capitão de ser o único presidente a esculhambar a própria população que o elegeu e da qual se tornou governante democraticamente.

Em cinco meses, o que mais tem feito o capitão é desrespeitar seu próprio povo. Particularmente quando esta fora do país (Freud explica).


Em Washington, condenou imigrantes ilegais que iriam para o Estados Unidos à procura de oportunidade de trabalho. Chutou uma população que lhe deu a vitória eleitoral, no exterior. No Chile, fez continência para a memória de um ditador local e lembrou do ídolo, carrasco nacional. Também não repreendeu o ex-ministro da Educação, colombiano naturalizado, que chamou os brasileiros de ladrões, no exterior, por se portarem roubando cinzeiro de hotel e outras quinquilharias.

O país tem assistido ao espetáculo de um governante a desferir achincalhe aos próprios concidadãos como nunca visto em qualquer país. Generaliza os ladrões, os imbecis, os idiotas sem olhar para o próprio rabo de laranjas, de desbocados, de rachadinhas e de desclassificados apoiadores.

Se os estudantes e professores da rede pública e de instituições particulares estiveram nas ruas não foram por serem "idiotas úteis", mas revoltados conscientes de cinco meses de balbúrdia governamental, inépcia administrativa e politica destrambelhada. Foram representantes legítimos, como serão sempre os estudantes, de um povo insatisfeito e saturado da governança caricata que sobrevive do conflito e não tem nenhum respeito ao contraditório por falta de educação cívica e moral.
Luiz Gadelha

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