sábado, 25 de agosto de 2018

Um presidente populista e um jingle alucinante

Juscelino Kubitscheck conferiu ritmo intenso a sua gestão, esperando realizar 50 anos em cinco com obras que modernizassem o país. A estratégia abrangia investimentos em energia e transportes, além da construção de Brasília. Seus adversários eram os mesmos de Getúlio Vargas e criticavam-no duramente, pois estaria havendo corrupção e o déficit fiscal comprometeria, em pouco tempo, as contas públicas. Patrocinaram, então, um candidato inscrito no Partido Trabalhista Nacional (PTN) que, ao longo de 13 anos, tinha sido parlamentar, prefeito de São Paulo e governador do Estado mais importante. A coligação era capitaneada pela União Democrática Nacional (UDN), abrangendo o PDC, PR e PL, todos com perfil conservador, liberal e urbano, sendo que esse grupo vinha de três derrotas consecutivas, desde 1945.

Jânio Quadros indicava vitória fácil, porque inflamava multidões a partir do palanque, brandindo uma vassoura para demonstrar que seu principal objetivo seria varrer a corrupção do país. Apresentava-se, principalmente, como justiceiro da classe média, embora fosse bizarro demais para integrar os partidos maiores; por isso, filiava-se a agremiações nanicas, desde sua estreia na política, em 1947, quando assumiu a vereança em São Paulo, após a cassação dos que tinham sido eleitos pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Ele assustava os líderes tradicionais, mas seduzia o povo, porque mantinha o cabelo desgrenhado, usava terno amarfanhado, com caspas, e comia sanduíche assentado na calçada. Suas atitudes exóticas eram pontilhadas pelo autoritarismo, pela instabilidade emocional e pela egolatria, sendo mesmo indomável quando optava por uma ação. Assim, irritou seus padrinhos, na disputa nacional, quando visitou Fidel Castro, em 29 de março de 1960, recebendo honras de chefe de Estado. O ditador cubano havia assumido o poder apenas um ano antes.

Apesar de suas excentricidades, Jânio Quadros foi eleito no dia 3 de outubro de 1960, com 5.636.623 votos, vencendo o general Henrique Teixeira Lott e Ademar de Barros. Tomou posse em Brasília, recebendo a faixa presidencial de Juscelino Kubitscheck, no dia 31 de janeiro de 1961.

Suas medidas incomodaram muitos setores, porque ele hostilizava o antecessor, provocava impacto na economia popular com medidas draconianas e despertava ironia pela insignificância de algumas sanções. Gerou mal-estar pelas manifestações de desprezo ao Congresso Nacional e pela redução do Orçamento das Forças Armadas. Além disso, condecorou Che Guevara, no dia 19 de agosto de 1961.

Sua renúncia no sétimo mês de mandato foi o fecho da ópera do absurdo, surpreendendo todos. Tratava-se de uma jogada para voltar como ditador se houvesse intensa mobilização popular a seu favor. Isso não aconteceu, e o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, apresentou logo a carta ao plenário, dizendo que a renúncia era um gesto unilateral e Ranieri Mazzilli deveria ocupar a Presidência da República, até que o vice-presidente João Goulart retornasse da China.

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