Neste ano de 2018, que mal começou, esperava não me utilizar, em meus artigos semanais, nem da expressão “lava jato” (sem o uso das antipáticas maiúsculas), nem da palavra “corrupção”. Não sou, porém, nunca fui, nem jamais seria contra o combate sistemático ao que causa grande mal não só aos brasileiros, mas a inúmeros países. Uma força poderosa que, na realidade, leitor, nos persegue pela vida afora.
Infelizmente, não poderei cumprir o que de fato desejo, de vez que voltou à imprensa um estudo do FMI, divulgado no final de 2016, que diz que o Brasil seria 30% mais rico se não houvesse corrupção. É evidente que essa conclusão deve ser estendida a todos os países. E que se inclua aí, também, a má gestão, que é tão perniciosa quanto. O que pode variar é o percentual, e haverá maiores do que o nosso. Não tenho simpatia pelo FMI. Ele é uma realidade boa e ruim, talvez até mesmo necessária, mas não é Deus e nem sempre acerta no que fala, pensa ou faz. Se é que uma instituição fala, pensa e faz. Por trás dela, estão mãos que fazem, que nem sempre são as mais limpas ou, no mínimo, bem-intencionadas.
O que mais me preocupa não é seu combate, mas a propaganda continuada que temos feito da corrupção em nosso país, nesses últimos anos. Parece que há glória em dizer que o Brasil é, sim, o mais corrupto do planeta Terra. É tanta que não há ninguém, no mundo, que ainda não ouviu falar do que acontece aqui. Somos craques em nos criticar e nos condenar. Superamos todos os países nesse miserável labor. Não temos amor a nosso país. Ao contrário, ao que parece, nutrimos por ele verdadeiro desamor. Uma palavra muito feia. O ambiente aqui foi tomado pelo ódio, que só pode desaguar em coisa pior. E, pior de tudo, ele ainda impede que se mostre o caminho da salvação.
Penso que, para alguns amigos e pessoas até mesmo de minha família, comecei outra vez muito mal estas linhas. Para eles, não sou somente um incorrigível esperançoso. Ou um venturoso (ditoso, feliz e afortunado), como me disse sorrindo, talvez com razão, meu irmão Luís Lara Resende, também jornalista, depois de ler meu último artigo. O rancor (não é o caso do meu irmão, nem nunca foi), ao qual a escritora Ana Maria Machado se referiu em seu artigo “Medo, esperança e rancor”, no “O Globo” do último sábado, é o sentimento dominante neste início de ano, povoado de incertezas políticas, econômicas, éticas, sociais etc.
Essa falta de esperança num futuro melhor, que está dominando o Brasil de norte a sul, como se fosse erva daninha, e que, lamentavelmente, tende a crescer com as eleições que se aproximam, não leva todos, mas leva muita gente ao sentimento de rancor, que a jornalista Cora Rónai, lembrada por Ana Maria Machado, definiu como “a densa baba do ódio”. Assim, como concluiu Ana Maria, que não foi só pretensiosa, mas corajosa, “desejar um país sem rancor é um bom voto para 2018, quaisquer que sejam em outubro os votos nas urnas”.
Que a esperança, desta vez, vença o medo, como foi dito numa eleição passada, no já longínquo ano de 2002. Mas isso só será realmente possível se os brasileiros forem felizes na escolha do presidente, dos governadores, dos senadores, dos deputados federais e estaduais. O destino do Brasil, queiramos ou não, está em nossas mãos.
Não nos iludamos, leitor: não há outro meio senão o bom e velho caminho democrático. Que venham, pois, os candidatos.
Com suas qualidades e defeitos.
Acílio Lara Resende
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