E o que fazer, se parece caminho sem volta? Como recuperar nossa saudável capacidade de reflexão driblando o ímpeto do “tem que ser já”?
Cada vez menos importa o que você diz, o que interessa é o que seu interlocutor quer ouvir.
Extenuante a avidez nas redes, e quase insuportável a opressão do politicamente correto. Vamos respeitá-los, estão aí, existem, mas seria vantajoso discutir com quem entende e leva o assunto a sério.
O escritor, psicólogo, e educador Ilan Brenman, doutor pela USP, autor de duas dezenas de livros infantis premiados, analisa há muitos anos o “politicamente correto” a partir das histórias contadas para as crianças.Acha que esse politicamente recomendável “não só é incapaz de incutir atitudes nas crianças, como retira dos pequenos as válvulas de escape dos medos e frustrações”.
Na literatura “politicamente correta” o lobo mau não existe mais. O Chapeuzinho Vermelho não foi comido. Muito menos a vovozinha. O Saci Pererê virou afrodescendente. O Negrinho do Pastoreio quase foi banido. É a literatura infantil que não traz conflitos, não trabalha com o imponderável. Sem graça. Sem mistérios. Sem sustos.
Resta saber por quanto tempo ainda teremos liberdade para falar e escrever.
O adulto quer um ambiente controlado, menos trabalhoso, analisa Brenman, e é aí que a literatura “correta” encontra espaço e se distancia da verdadeira literatura. E é no mundo adulto que a patrulha se revela, predatória.
É muito bom que colunistas e jornalistas, especialistas ou não, escrevam muito sobre tudo isso.
Não vamos mudar o rumo da história. As redes sociais continuarão implacáveis e as “minorias” (maiorias, às vezes) não abrirão mão do que pode ser considerado ofensivo. Podemos tentar dar mais qualidade ao que lemos em casa, nos livros e nos computadores. Nós, nossos filhos, nossos netos. Sem opressão. Com mais reflexão, por favor.
Mirian Guaraciaba
Nenhum comentário:
Postar um comentário