quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Desafio descomunal para que tudo não acabe numa vitória de Pirro

O ministro Luís Roberto Barroso, no dia seguinte à decisão da Câmara Federal de não aceitar, para que prosperasse no STF, a denúncia do procurador geral República, Rodrigo Janot, contra o presidente Temer, disse o seguinte: “A operação abafa é uma realidade visível e ostensiva no Brasil de hoje. Há muita resistência às mudanças que precisam ser feitas. Há os que não querem ser punidos, e há um lote pior – os que não querem ficar honestos nem daqui pra frente. Estas pessoas têm aliados em toda parte, nos altos escalões da República, na imprensa e nos lugares onde a gente nem imagina”, detalhou o ministro.

A advertência de Luís Roberto Barroso tem o pé na realidade, mas precisa ser bem explicada. Os “altos escalões da República” estariam no STF? O Executivo e o Legislativo já estão devastados por inúmeras denúncias. Sobre a imprensa, o que se vê é, exatamente, o contrário. Ela não tem dado trégua a nenhum investigado.

 
A crise ética só será mitigada com a educação, no longo prazo. Até porque não botará fim a nosso Estado mastodôntico, que esconde todos os nossos males
Mas voltemos à votação na Câmara na semana passada. Votaram pela não aceitação da denúncia 263 deputados; pela aceitação, 227. As 21 ausências e abstenções favoreceram o presidente. E ainda ficou uma suspeita no ar: quando a apuração atingiu o número 172, de que necessitava o governo, alguns parlamentares, para fazer média com a opinião pública, votaram a favor da aceitação da denúncia.

Já disse mais de uma vez e volto a dizer agora: para o bem do país, num gesto de grandeza do presidente Temer, o melhor teria sido sua renúncia. Como isso, por meio de declarações teimosas do próprio, verificou-se absolutamente impossível, pergunto-lhe, leitor: a aceitação da denúncia (precária, como dizem alguns juristas), para que fosse processado agora, teria sido o melhor caminho? Principalmente quando se sabe que, em 2018, teremos, finalmente, eleições diretas?

O regime democrático tem suas contradições. Elas são, todavia, sua essência. A crítica ao presidente de que saiu vitorioso na Câmara só porque usou meios deploráveis (a liberação de emendas a parlamentares e a exoneração de ministros para votar) até que procede. Mas uma vitória política – e essa foi política –, se dependesse dos “virtuosos”, jamais ocorreria. A presidente Dilma, quando tentou livrar-se do impeachment, não fez a mesma coisa? Por que, então, a condenação do presidente pela oposição, se esta aceitou, quando a botina apertava-lhe o calo, o mesmo jogo? Não é mais ou menos isso o que ocorre em quase todos os Parlamentos do mundo?

O mal, claro, não pode estar no regime democrático.

Mas a piada do ano está no que disse Joesley Batista, que assistiu à sessão da Câmara em companhia de subordinados: “O dia 2 de agosto ficará marcado como o dia da vergonha”. Não é equiparável, mas também merece pelo menos citação o que disse à imprensa Rodrigo Janot depois da não aceitação da denúncia: “A Câmara é a Câmara, o Ministério Público é o Ministério Público, o Judiciário é o Judiciário”.

Que se cuide o presidente Temer! Chumbo grosso ainda surgirá por aí por meio da PGR. Sua situação ainda poderá piorar. O desafio que tem pela frente é descomunal. Ou o enfrenta e ajuda o país a sair dessa terrível crise política e econômica, por meio de reformas imediatas, ou, então, espera sentado pelo pior, que com certeza virá.

Já a crise ética, mesmo com a reforma política, só será mitigada com a educação, no longo prazo. Até porque ela não botará fim a nosso Estado mastodôntico, que esconde todos os nossos males.

O homem, leitor, foi feito de barro...

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