quinta-feira, 6 de julho de 2017

Nelson Rodrigues pode levar-nos a refletir sobre a unanimidade

Nelson Rodrigues está mais atual hoje do que ontem. A afirmação parece fora de propósito, mas há talentos que ganham maior vulto anos depois da morte de seu detentor. Nelson dizia com frequência que “toda unanimidade é burra” e que “quem pensa com unanimidade não precisa pensar”. Disse um monte de outras coisas – sobre futebol, teatro, política etc. Mas a frase aqui transcrita ganhou mais notoriedade em relação às outras. Até os que nada conhecem do jornalista, do cronista ou do teatrólogo, repetem-na em qualquer conversa, sobre qualquer assunto.

A célebre frase foi lembrada por meu irmão Luís Lara Resende, também jornalista, a propósito da unanimidade que se formou contra o presidente Temer. É claro que nem toda unanimidade é burra. Ela pode ser até mesmo inteligente. Com sua espiritual observação, o pernambucano, que deixou Recife aos 4 anos para viver e morrer aos 68 anos no Rio de Janeiro, em 1980, quis chamar a atenção para a múltipla diversidade do ser humano. Quis dizer que o livre pensar – aquilo que mais defendeu em sua vida – faz parte da natureza humana.

Agora, leitor, qualquer atitude do presidente, por mais desinteressada que seja, será julgada de maneira extremamente severa. Não bastam, pois, seus erros ou derrapadas. O que está em jogo é o futuro político de Michel Temer. E isso se agravou ainda mais depois da acusação raivosa que o procurador geral da República, Rodrigo Janot, encaminhou ao Supremo Tribunal Federal ou, mais precisamente, ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, confirmado no cargo com votação quase unânime. E, enquanto a pesada carga se despeja sobre Temer, Lula e seus companheiros vão distanciando-se dos holofotes da mídia de modo geral. Até parece que há algo combinado e que escapa, totalmente, a nossa percepção ou a nossa capacidade de analisar os fatos políticos ou outros que, em torno deles, nos desafiam.

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O provérbio “o caminho do inferno está palmilhado de boas intenções” se aplica ao presidente como uma luva. Ele convocou uma equipe econômica competente, mas isso não vale nada. Sua equipe política está cheia de denunciados na operação Lava Jato. Nada do que disser ou fizer, ainda que seja bom, será aceito por seus acusadores. É evidente que isso aconteceu porque Temer praticou atos realmente reprováveis. O “Carlos”, nos tristes versos de Carlos Drummond de Andrade, poderia ser o próprio Michel: Quando nasci, um anjo torto,/ desses que vivem na sombra,/ disse: vai, Michel, ser gauche na vida.

A absolvição do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, pela oitava Turma da 4ª Região do TRF, de Porto Alegre, num dos cinco processos que são movidos contra ele, todos conduzidos pelo juiz Sergio Moro, de quem tenho a melhor das impressões, levanta, senão uma dúvida, pelo menos uma intrigante hipótese: será que o ex-presidente Lula não poderá ter, em segunda instância, o mesmo destino de Vaccari?

Será que o destino ou, quem sabe, os demônios da política não estariam trabalhando, intensamente, e com a colaboração de outras forças, igualmente poderosas, para que se possa entregar o país outra vez àquele que não sabe de nada, mas, na verdade, sabe de tudo?

“Sei não!”, exclamou o amigo motorista de táxi na semana passada. E acrescentou: “Está tudo, no mínimo, muito estranho!”

Como disse o empresário mais “sortudo” do Brasil, Joesley Batista, Lula nunca teve com ele conversa não republicana…

Ou o melhor, leitor, é fingir que não sabemos de nada?

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