Repararam? Não é que as reformas sejam boas ou ruins para a estabilidade e o desenvolvimento do país. Isso não interessa. Só interessa saber se as reformas ajudam ou atrapalham o futuro candidato presidencial do PSB. E como há muitos grupos de pressão contra a reforma, o PSB, embora sendo parte do governo Temer, tendo ministério e cargos, declarou-se contra as propostas de Temer. E não renunciou a nenhum de seus postos no governo.
Não pode haver demonstração mais explícita de fisiologismo — essa praga que trouxe a política brasileira ao ponto que está hoje.
Dito de outro modo: manobras como essa do PSB não têm chance de prosperar.
Primeiro, porque o presidente Temer, que é do meio, sabe como lidar com esse pessoal. Por exemplo: no começo do debate, o presidente despachou ministros e economistas para convencer parlamentares sobre a necessidade das reformas. Nestes dias, não mandou ninguém para argumentar com o PSB. Simplesmente mandou dizer que o partido perderia cargos e sinecuras.
Foi o suficiente para que boa parte dos deputados socialistas — socialistas! — voltasse para o lado das reformas. Fizeram contas: manipular verbas e serviços do governo pode gerar mais votos do que se manifestar contras as reformas.
Funcionou porque a alternativa do PSB, uma vez demitido do governo, era cair na oposição tipo “Fora Temer”, fora tudo, que sabidamente já está ocupada.
Ou seja, o PSB, aqui usado como exemplo, porque vários outros partidos e políticos pensam da mesma forma, entendeu que poderia se colocar da seguinte maneira: jogar para a torcida organizada e votar contra as reformas, mas continuar no ministério e nos demais cargos, oferecendo verbas, serviços e obras para sua clientela. Achava que podia ganhar dos dois lados.
Perderam a noção.
Se as reformas trabalhista e previdenciária, nessa ordem, não forem aprovadas, o governo Temer acabou. Sem a modernização das relações trabalhistas, o Brasil continuará sendo um dos países mais caros do mundo para quem quer investir e ganhar dinheiro honestamente. Logo, não haverá retomada consistente. Sem a reforma da Previdência, o setor público vai quebrar — sim, pensem no Rio de Janeiro.
É verdade que o governo federal tem mais instrumentos que os estaduais. Sem a economia propiciada pela reforma da Previdência, Temer pode tentar, no desespero, um forte aumento de impostos. Para isso, a turma da fisiologia estará pronta. Esse pessoal adora mandar a conta para os contribuintes.
Mas as ruas impedirão esse aumento de impostos. O pessoal está farto desses políticos e desses impostos.
Sem dinheiro extra, as contas públicas naufragam e afundam junto o país. Isso quer dizer o seguinte: a dívida pública sobe de maneira explosiva; o governo só consegue se financiar pagando juros de agiota; logo, o BC tem que voltar a subir a taxa básica, aumentando os custos de financiamento de pessoas e empresas; a economia desacelera por falta de investimentos e consumo; não há geração de empregos; o governo arrecada ainda menos impostos; a despesa continua aumentando porque não foram votadas as reformas. Quebrado.
Mesmo que se consiga um aumento geral de impostos, não vai adiantar. Pessoas e empresas não vão pagar, porque ficarão diante da alternativa: pagar ao governo e quebrar ou não pagar e tentar sobreviver.
A economia também não pode andar nesse ambiente.
Não, isto não é terrorismo. É apenas a descrição do que já aconteceu em tantos países, inclusive o Brasil, que cometeram os mesmos equívocos.
Mesmo, portanto, que o PSB e outros conseguissem votar contra as reformas e permanecer no governo, não adiantaria nada. A crise política e econômica — na sequência da Lava-Jato — levaria ao limite o desprezo da população pelos políticos e pela política partidária. Seriam todos eliminados, como ocorreu na Itália, por exemplo.
Na verdade, essa devastação pode ocorrer mesmo que o governo Temer consiga votar as reformas. Os efeitos da Lava-Jato permanecerão no cenário.
Daí o desespero dos velhos políticos. Faz sentido.
Mas está claro que a única chance deles, ainda que remota, é votar as reformas e colocar o país numa marcha de recuperação econômica e social. Num ambiente mais calmo, com algum crescimento, algum emprego, quem sabe o eleitor seja mais tolerante.
Tomara que não.
E outra coisa. O nome em ascensão é João Doria, cuja principal virtude é definir muito bem o seu lado: pelas reformas, pelas privatizações, pela redução do Estado, contra Lula e o PT.
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