segunda-feira, 22 de agosto de 2016

De caçadores de alimento a de Pokémon: evolução humana

Todos os dias, leões acordam para caçar zebras, e zebras, para fugir de leões. Até o fim dos tempos deles. Um estresse diário que dura cinco minutos, seguido de 23 horas e 55 minutos de relaxamento, com as zebras voltando a pastar relaxadas e felizes, enquanto os leões, em seu covil a poucos metros, devoram uma carcaça tranquilamente. Assim é a natureza: justa, cruel, com suas leis naturais e cadeias alimentares.

Seres humanos desenvolveram mecanismos sofisticados e armas, dominaram o fogo, domesticaram animais e extraíram deles leite, ovos e carne. Iam pro mato e colhiam sementes, frutos e raízes. Assim, se fizeram senhores da terra. Caçadores sofisticados, guerreiros implacáveis, tiveram por bem invadir terras alheias, matando semelhantes, estuprando fêmeas como prêmio das vitórias e roubando os filhos como escravos e mão de obra. Criaram impérios, rivalidades, religiões, raças, culturas e uma sede insaciável de expandir e se impor universalmente.

Assim, atingiam auges que coincidiam com a decadência. Persas, mongóis, egípcios, fenícios, gregos, romanos, otomanos, britânicos e americanos. Tudo começou nos caçadores e na necessidade de aumentar sua área de caça.

Eis que o império da tecnologia lança seus caçadores em todo o mundo. Cacem os Pokémons! Ordena a Nintendo, e, imediatamente, um bando de zumbis que habitavam suas cavernas domiciliares, seus quadrados onde a tela de seus gadgets é seu universo paralelo e a razão de viver, e descem para a rua com o smartphone na mão, numa busca feroz pelos bichinhos japoneses dos anos 90, que reaparecem desde na Torre Eiffel até no elevador do prédio.

Nas ruas, um bando de mortos-vivos são atropelados, trombam, caem de meio-fio, são assaltados, estuprados, abandonam o estudo ou o trabalho, batem o carro, são atraídos por anúncios de lojas, são monitorados por GPS por todos os serviços secretos ou manipuladores do Google e de outras vendedoras de dados e localizações. Os banditismos virtuais se deliciam com os bobões que domesticaram e que gastam dinheiro para ficarem conectamos na caça ao nada ou coisa nenhuma, que chamamos bichinhos do Pokémon.

Sim, fiz muita coisa imbecil na minha vida infantil: joguei queimada na rua, brinquei de casinha com vizinhas para comer os sanduíches de verdade que faziam e dar bicotinhas sensuais na minha “esposa”, a mais bela da turma. Lutei com espada feita de madeira, joguei bolinha de gude e andei de rolimã. Cacei borboleta perto de cachoeira e apanhei rolinha em alçapão. Fiz muito “luau” e cantoria vendo o sol nascer. Colhi mexerica no pé, manga, e plantei morango. Catei rã pra fritar. Podem me chamar de troglodita.

Mas tudo isso me fez ser quem eu sou. Apenas temo um dia ser liderado pela geração dos caçadores de Pokémon. Só isso.

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