terça-feira, 5 de julho de 2016

Os grandes e os pequenos

A imprensa noticiou, na última semana, a fusão de dois dos maiores grupos de ensino privado, que, se concretizada, os fará responder por mais de 1,5 milhões de estudantes e por cerca de 12 mil cursos de graduação, aproximadamente 30% do total dos cursos oferecidos no país.

Tais operações financeiras trazem vantagens aos acionistas desses grupos, pois resultam, de imediato, na alta das ações nas bolsas. Do ponto de vista acadêmico, penso que é muito importante assegurar o cumprimento de certos princípios que devem nortear a nossa educação superior, onde as dimensões, vocações e peculiaridades regionais são parâmetros que não podem ser esquecidos. Assim, as operações de fusão e aquisição deverão garantir os padrões de qualidade na oferta de cursos, sempre preservadas as necessidades e identidades regionais.

Por outro lado, “instituições menores”, com algumas centenas de estudantes, ou até poucos milhares, poderão ter papel muito importante na educação superior, na medida em que temos hoje mais de 60% dos municípios onde as grandes instituições e universidades não chegam. Os “pequenos” não devem, portanto, ser esquecidos.

No início do século XX, quando os norte-americanos começaram a entender a importância de um curso superior de qualidade para o mercado de trabalho e para o desenvolvimento, foram implantados os “junior colleges”, que depois foram denominados de “community colleges”. Eles surgiram pela pressão por mais vagas nos cursos superiores, quase sempre de candidatos ainda sem o necessário preparo para o ingresso nas universidades, na época marcadas por uma forte tradição e pela formação nas profissões clássicas (direito, medicina e engenharia, entre outros).

Os cursos dos colleges, mais profissionalizantes, são similares aos atuais cursos superiores de tecnologia, oferecidos no Brasil. Os colleges foram responsáveis pela democratização do acesso na educação superior norte-americana. Atualmente, eles respondem por mais de 50% dos ingressantes no nível superior. Suas vantagens são grandes pois custam menos e são mais flexíveis. Li recentemente que, hoje, é possível a um cidadão norte-americano encontrar uma instituição de ensino superior num raio de até 50 km de sua moradia.
 
Em resumo, a rede de educação superior na América do Norte inclui unidades destinadas ao atendimento daqueles que tenham interesse em estudar na cidade onde vivem e, provavelmente, onde poderão trabalhar.

Quais são os nossos problemas?

Em primeiro lugar, a má distribuição geográfica dos cursos superiores, que não alcançam muitos municípios.

Em segundo, não estamos dando efetiva importância aos cursos superiores de tecnologia, que sequer são reconhecidos por muitas empresas.

Em terceiro lugar, insistimos no modelo hierarquizado, onde faculdades isoladas aspiram a se transformar em centros universitários e depois em universidades, em busca de uma autonomia para abrir novos cursos, que poderia ser concedida facilmente àquelas instituições com bom desempenho, independentemente de sua forma de organização.

Gosto sempre de lembrar que o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets) e o Caltech (Instituto de Tecnologia da California), ambos com respeitáveis quadros de prêmios Nobel, não são universidades.

Finalmente, pela inexistência de um diploma superior de estudos gerais, como ocorre em vários países da união européia. Cursos com disciplinas de formação geral e algumas disciplinas de formação profissional específica poderiam muito bem ser oferecidos em milhares de municípios, contribuindo para a melhor preparação dos quadros das empresas e dos professores de ensino médio.

Dessa forma, torna-se imperioso que o Ministério da Educação se volte, também, para os "pequenos", assegurando-lhes os meios para atender, com qualidade, às necessidades do desenvolvimento local. Aliás, está na hora de redefinirmos um novo modelo de organização para o nosso ensino superior.

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