quinta-feira, 7 de julho de 2016

Lutemos permanentemente para que os bons jamais se cansem

Volto aos dias que passei na Cidade Maravilhosa para falar do encontro com José Mariano Beltrame, secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro. Beltrame pertence aos quadros da Polícia Federal. Dedica-se, há nove anos, à tarefa de pacificar as favelas cariocas. Cedido ao governo na gestão de Sérgio Cabral, foi mantido pelo governador Luiz Fernando Pezão, licenciado por motivo de saúde.

Não sei, com certeza, o que esse gaúcho de Santa Maria obteve de positivo, até este instante, em seu duro trabalho. Sei que tem trabalhado muito. Para se ter uma ideia, de acordo com o último Censo, de 2010 (o Censo só se faz de dez em dez anos), são 1.393.314 pessoas, distribuídas em 763 favelas. Reside, nessas comunidades, 22% da população. Esse percentual, claro, cresceu de 2010 para cá.

Quando degustávamos o café da manhã, numa das conhecidas padarias do Leblon, por volta das 8h, minha mulher me chamou a atenção para a chegada ao local desse homem de bem. Como o tenho acompanhado pela imprensa escrita, falada e televisada, não resisti ao impulso, e fomos – os dois – a seu encontro. Ao nos aproximarmos de sua mesa (estava ao lado da mulher), vimos a expressão de alguém fatigado e abatido. O abatimento, especialmente naquele dia, se devia ao triste episódio ocorrido na véspera, no Hospital Souza Aguiar, quando o traficante Fat Family foi resgatado por 23 de seus muitos comparsas.

Feitas as respectivas apresentações, disse-lhe que eu e minha mulher estávamos ali porque o reconhecimento anônimo pelos serviços prestados é, sem dúvida, o melhor pagamento que deve esperar um servidor público que cumpre seu dever. E ele é um deles. Beltrame agradeceu os elogios, mas nos disse, em seguida, que se sente sozinho na tarefa hercúlea que assumiu. E, simultaneamente, sinalizando com uma das mãos, deu-nos a entender que estava prestes “a dar o fora”. A imprensa, depois, confirmou que ele ficará até o fim das Olimpíadas.

Beltrame me fez lembrar o alerta que contém a frase “o cansaço dos bons”, usada por muita gente importante. Uma delas: Martin Luther King, que dizia que o que mais o incomodava era o “silêncio dos bons”. Mais recentemente, o psiquiatra argentino Roberto Almada adotou-a como título de um de seus livros, que trata do desgaste profissional e emocional do ser humano. Segundo ele, para o bem da humanidade, o grande desafio é impedir que os bons se cansem.

Estamos outra vez, hoje, diante desse desafio, quando o noticiário sobre o envolvimento de agentes públicos e empresários na corrupção conseguiu superar aquele que trata da violência no trânsito ou no tráfico. Só no Rio, por exemplo, um motorista é roubado a cada três minutos. Sobre o que ocorre no tráfico, o jornalista inglês Misha Glenny, que residiu na favela da Rocinha por três meses, retirou de lá elementos para escrever o livro “O Dono do Morro”, sobre o traficante Nem. Misha afirma que viu o mesmo acontecer no Leste Europeu, quando da queda do comunismo: “Quando o Estado é fraco, o crime organizado avança”.

O prefeito Eduardo Paes, mais boquirroto que gestor, em sua diatribe contra o governo que ajudou a eleger, concordou com Misha Glenny quando este, em entrevista a Mário Sérgio Conti, disse que não teme atentados nas Olimpíadas. Os chefes do tráfico contarão com um bom mercado… O problema é o “após” (expressão do inglês Misha), quando a crise política e econômica mostrar, enfim, sua cara. Será terrível!

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