quinta-feira, 12 de maio de 2016

Fim de um desgoverno

Quando se prepara para receber do Senado Federal a notícia de que a partir de amanhã já não mais será a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, tem razões de sobra para refletir sobre as causas que a levaram e a seu governo a tão melancólico desfecho.

Considerando seu passado, Dilma não admitirá sua própria responsabilidade no episódio. Ficará repetindo, como mantra, é golpe, é golpe, não aceitando o fato de que violou a Constituição em matéria punível com o impeachment.


Escapar da responsabilidade lhe parece natural, pois foi o que fez quando lhe perguntaram sobre o funcionamento do maior esquema de corrupção do mundo, na Petrobras, nos anos em ela foi presidente do conselho de administração da empresa: Euzinha? Nada vi, nada soube, de nada desconfiei, nada supus, de nada nada.

O pior é que pode mesmo não ser apenas uma de encenação. Pode ser que Dilma acredite mesmo na baboseira que vem repetindo nos comícios que organiza no Palácio do Planalto, de que ela é apenas uma pobre vítima de golpistas desalmados. A

Ora, como pode isso acontecer com ela, que apregoava à exaustão na campanha eleitoral de 2010 que “a gente nunca pode apostar nas virtudes dos homens, porque todos os homens e mulheres são falhos. Precisamos apostar na virtude das instituições”.

Mas esse pensamento, que tomou de empréstimo a Márcio Thomaz Bastos, não lhe ensinou a história toda. A virtude, própria ou alheia, é apenas metade do que necessita o ou a governante para ter sucesso. A outra metade, como já instruía Maquiavel a Lourenço de Médici, poucos anos depois da descoberta do Brasil, chama-se sorte, fortuna.

Luiz Inácio Lula da Silva, que antecedeu Dilma na Presidência, administrou o País com um relativo déficit de virtude, mas com um extraordinário superávit de sorte.

Tendo recebido o país com as contas econômicas relativamente bem arrumadas, foi sábio (virtude) o suficiente para nelas não mexer. Com isso pode usufruir de toda a sorte (fortuna) representada pelo aumento brutal dos preços das commodities exportadas pelo Brasil, graças ao ímpeto importador chinês.

Com dinheiro sobrando, com o país crescendo, Lula pode bancar os programas sociais de sua agenda e apresentar-se ao mundo como um grande líder. Como se dizia à época, o lado bom de Lula não era novo, e o lado novo não era bom. Mas o fato é que foi bafejado pela sorte.

Como Dilma, só que com referência ao ‘mensalão’, cujas tratativas ocorriam na sala ao lado de seu gabinete, Lula também de nada soube, viu ou percebeu. Mas o que fazer, se a falta de virtude em seu governo era mais do que compensada pela fortuna?

No caso de Dilma, a situação foi diferente. Por razões que talvez conte quando produzir um relato biográfico, Lula a escolheu - quando muitos associavam sua imagem à de um poste em termos de flexibilidade política - como candidata a sucedê-lo.

Sua fama como gestora, na verdade, parecia mais decorrer do temor que espalhava à sua volta, fruto de incontrolada grosseria pessoal, do que de uma efetiva qualificação pessoal e profissional.

Lula terá um dia de explicar a razão de ter indicado uma pessoa com essas falhas tão patentes para assumir a complexa responsabilidade de administrar um país como o Brasil. Para completar, faltou a Dilma a sorte que sobrara nos governo de Lula da Silva.

A herança deixada por seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, foi apresentada pela máquina de propaganda do governo como um sucesso. Na verdade, parecia um pêssego, mas era pequi: bonito por fora, mas com profusão de espinhos por dentro.

Um desses espinhos deixados de presente por Lula para sua sucessora foi um pacote de “empenhos”(compromissos de pagamento) de mais de 10 bilhões de reais. Foi esse o começo do fim.

Pedro Luiz Rodrigues

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