Imagine alguém, como qualquer um de nós, em meio a acusações como as que são feitas contra Lula e num momento como este, em plena operação Lava Jato. No mínimo, seríamos submetidos à investigação e, provavelmente, presos com fundamentos semelhantes aos dos que já tiveram prisão temporária decretada. Essa é a realidade.
Não sei se de fato o ex-presidente se enriqueceu, e há evidente maldade em muitas acusações que lhe fazem. Aceito, porém, que isso possa ter ocorrido, não sei se de maneira ética, por meio de seu Instituto Lula ou de sua empresa, que promove suas conferências e que, obviamente, já foram mais procuradas do que hoje.
Lula se afeiçoou à chamada “vida burguesa” que tanto criticou. Imagino o que valem as 32 caixas de bebidas alcoólicas que fizeram parte de pertences seus que seguiram para o sítio em Atibaia. Com certeza, muitas lhe foram presenteadas. Pelo que se sabe, Lula aprecia bons vinhos, mas o vinho, leitor, por si só, nunca levou nem jamais levará alguém para o inferno.
Vem-me à lembrança agora a figura de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, de vida quase monástica e que, infelizmente, ignora (ou, lamentavelmente, finge ignorar) o que tem acontecido por aqui quando procura defender o amigo. Seria proveitoso que Mujica visitasse, pelo menos, um dos imóveis frequentado 111 vezes por seu companheiro, como proprietário de fato ou como convidado preferencial.
O ex-presidente colheria melhor resultado se tivesse comparecido para depor na quarta-feira da semana passada. Ele precisa se explicar a uma boa parte do povo brasileiro que confiou nele. Sua concordância com o recurso apresentado pelo deputado Paulo Teixeira ao Conselho Nacional do Ministério Público provocou mais desgaste pessoal e político. Ficou a impressão de que Lula não tem saída mesmo.
Lamento o descrédito a que chegou o ex-presidente e, sobretudo, o que fizeram alguns dos principais dirigentes do PT para permanecerem no poder. O ideal seria que o partido não se distanciasse da ética, que um dia o norteou. Milhões de brasileiros acreditaram nela. Mesmo assim, não integro o grupo dos que dizem que o partido acabou.
A prisão do marqueteiro João Santana, íntimo de Lula e Dilma, mas que exerce papel, no governo desta, de conselheiro, guru e ministro sem pasta, e o apontamento, pela Polícia Federal, de que Lula deve ser investigado porque pode estar ligado a “práticas criminosas” são de fato devastadoras. As defesas que fazem dele o presidente do PT, Rui Falcão e o Instituto Lula não convencem e chegam a ser patéticas.
O lema adotado pela Lava Jato tem algo a ver com o do mineiro, que dá um boi para não entrar na briga, mas dá uma boiada para não sair dela. É esse o espírito que domina hoje a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e, em especial, o operoso juiz Sérgio Moro.
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