sábado, 27 de fevereiro de 2016

Filmes de terror

É preciso estômago para enfrentar um programa eleitoral na tevê. Os políticos costumam se expressar mal. Os partidos têm pouca credibilidade. Os discursos não interessam a quase ninguém. Com a popularização da internet, a propaganda obrigatória ficou ainda mais obsoleta. Em pouco tempo será peça de museu, como as urnas de lona e as cédulas de papel. Enquanto isso não acontece, o telespectador é submetido ao espetáculo dos marqueteiros. Nesta semana, em dose dupla. Na terça, foi ao ar o programa do PT. Hoje será a vez do PMDB. Os dois partidos tiveram direito a dez minutos em horário nobre, entre a novela e o telejornal.

Os petistas investiram no discurso motivacional. “Quem já viu o Brasil superar momentos muito piores sabe olhar o presente com coragem”, diz uma locutora no estúdio. “Você tem que ser otimista, tem que ter esperança”, emenda uma atriz no papel de vendedora de cachorro-quente. “A gente não pode entregar os pontos”, complementa uma falsa vendedora de biscoitos.


Pela narrativa do PT, a crise se limita a um problema de baixa autoestima. Se o povo cantar o hino e recuperar o otimismo, o país voltará a crescer. Adeus, recessão.

Na propaganda do PMDB, que já está na rede, o clima é de filme de terror. “Enquanto a economia desanda, continuamos desiludidos”, diz uma atriz vestida de preto. “O desemprego cresce sem parar, e vem de mãos dadas com a carestia. A combinação não poderia ser pior”, continua.

Poderia sim. Na sequência, entram em cena os políticos do partido, num desfile macabro de investigados na Lava Jato e deputados de cabelo pintado de acaju.

Os dois programas são exagerados, um para cada lado. O do PT vende um mundo cor-de-rosa. O do PMDB fala de um país que não tem mais solução. Nem parece que os partidos são sócios do mesmo governo, disputaram a eleição juntos e ainda dividem verbas e ministérios.

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