quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Quando o Senado quase fez ruir as bases da nossa frágil democracia

Na última quarta-feira, 25 de novembro, durante a tarde e grande parte da noite, os brasileiros não só se quedaram estupefatos, mas também, em nossas redes sociais, se manifestaram em favor da decisão tomada por 59 senadores no episódio que envolveu o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral, preso no exercício do cargo – um acontecimento inédito na República.

Além dele, estão envolvidos e igualmente presos o advogado que vem atuando na operação Lava Jato (ainda não se sabe bem em defesa de quem) Edson Ribeiro, o jovem banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, e o chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral, Diogo Ferreira. O denunciante foi o filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o ator Bernardo Cerveró.

Sem pestanejar, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, pronta e adequadamente, se manifestou sobre o episódio: “O Senado Federal corre o risco de se autodestruir institucionalmente e jogar uma pá de cal na nossa jovem democracia”.

Felizmente, porém, o bom senso venceu, e nada disso aconteceu. Ao contrário, a resolução dos senadores que ratificou a decisão unânime do Supremo Tribunal Federal – a de manter o senador preso – aumentou nos brasileiros a fé no regime democrático, único capaz de permitir que as instituições funcionem. E mais: ao demonstrar que as instituições estão funcionando, apesar da grave crise por que passamos, reacendeu em nós a esperança de que, brevemente, o país rapidamente possa encontrar a solução para os problemas que o afligem.

Todavia, após a prisão do senador Delcídio do Amaral, os brasileiros, novamente estupefatos, tomaram conhecimento da nota do presidente do PT, Rui Falcão, que, agravada com o que disse depois, poderá sugerir ao ex-líder a delação premiada. “Nenhuma das tratativas atribuídas ao senador tem qualquer relação com sua atividade partidária. Por isso, o PT não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade”.

Na última segunda-feira, Falcão ainda afirmou que o “senador traiu a confiança” do seu partido e da presidente Dilma Rousseff: “Todos sabemos que há uma seletividade nas investigações da Lava Jato, como também são nítidas as manobras para criminalizar o PT como instituição. Nada disso, contudo, exime o senador do delito de usar seu cargo em benefício próprio, com prejuízos para o PT, o governo e o próprio país”.

Como se viu, o tratamento dado ao ex-líder do governo no Senado passou muito longe daquele que o partido dispensou ao ex-ministro José Dirceu e ao seu tesoureiro João Vaccari Neto. Sobre o primeiro, foi dito o seguinte: “Ele é réu no processo, não apresentou a sua defesa. Até que isso se dê, temos que partir da presunção de inocência, e não da presunção de culpa”. Já sobre o segundo, o PT declarou que “considera um equívoco a condenação, sem provas, do companheiro João Vaccari Neto, que construiu sua história nas lutas dos trabalhadores”.

As pessoas que visitaram na prisão o senador petista contaram que ele se sente abandonado pelo ex-presidente Lula e pelo partido e que considera a posição que o PT tomou “uma covardia atroz”. “Deixe estar, os dias se sucedem”, disse um interlocutor do ex-líder.

O país agradeceria muitíssimo se, ao lado da delação premiada do senador e ex-líder do governo no Senado, surgissem, conjuntamente, as renúncias da presidente Dilma e dos presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Um alívio!

Acreditemos nisso, leitor!

Acílio Lara Resende

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