segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Minha TV, minha vida

Pesquisa do Conselho de Arquitetura e Urbanismo no "Globo" revelou que 46% da população brasileira moram em casas construídas por eles próprios. Não porque sejam pedreiros diletantes, dados a empilhar tijolos e aplicar-lhes massa nos fins de semana, como quem constrói um forno de pizza ou sauna no quintal. Mas porque, da pobreza ao relaxamento oficial, tudo no Brasil favorece a que se levante um barraco no primeiro terreno baldio que se encontre, e não necessariamente na favela.

Para constatar isto, basta uma volta de carro por qualquer cidade brasileira. A quantidade de casas de tijolo aparente, com um ou mais andares, salta aos olhos. O chocante é descobrir que essas casas toscas abrigam quase metade da população. Em 200 milhões de habitantes, serão dezenas de milhões de moradias feitas sem um engenheiro, um arquiteto ou mesmo um mestre de obras, ao largo da rede de água e de esgoto, a salvo do IPTU e inexistentes para o correio.

Mas todas estão ligadas à eletricidade por um gatilho. Segundo outra pesquisa, esta do IBGE, 97% desses lares têm televisão e geladeira, 58% têm máquina de lavar e 49%, computador. A reportagem do "Globo" entrou na palafita de uma pescadora chamada Jane, no Recife. Trata-se de um cômodo de cinco metros quadrados, sem banheiro e sem fogão –a comida é feita numa lata cheia de carvão. Mas Jane tem algo indispensável: uma TV de LED, de 42 polegadas, comprada a prestações e ainda não de todo quitada.

Sob a acepção (correta) de que Jane tem tanto direito a uma TV de luxo quanto eu ou você, o modelito econômico costurado nos últimos anos garantiu que ela adquirisse essa TV. Infelizmente, não lhe garantiu uma vida nem em sombra parecida com a que ela vê na telona.

E que, em breve, não verá mais, porque vão lhe tomar a TV.

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