quinta-feira, 23 de julho de 2015

A obstinação pelo poder é o elo comum em toda crise


Depois de malfeitos, bazófias, trapaças, jactâncias e embustes, que caracterizaram a política nesses últimos dias, pouca coisa me sobrou para contar, leitor. Nós, mais vividos, sabemos que o país já vivenciou crises piores do que a atual. Você se lembra da lambança que fez a dupla Collor/Zélia em 1990? Você se lembra de que, na era Sarney, vivemos uma inflação de 82% ao mês?

Em todas as crises políticas, há um elo em comum: a obstinação pelo poder. Quem está fora dele quer entrar, e quem está dentro dele não o quer deixar. E é essa obsessão pelo poder a causa mestra de intervenções truculentas.

Está aí (e não no bem do povo, que talvez seja a última ocupação dos políticos) a principal causa da pregação de alguns em favor do impeachment, já que tem fortes indícios de que pode mesmo acontecer. E, se acontecer, o trauma desse remédio constitucional a qualquer preço poderá trazer problemas maiores e com consequências imediatas ou futuras ainda mais graves.

Não nos iludamos: não é só a corrupção que derruba a economia de um país ou o torna endividado. Ela não é invenção do brasileiro nem nasceu do ventre do PT. É mundial, mas boa parte do PT deixou de lado a pregação em favor da ética e correu com muita vontade ao pote e num instante em que o povo já se sentia exausto com tantos abusos.


A crise se tornou mais grave porque a danada da corrupção se somou à péssima gestão. O país foi entregue, então, pelo voto direto, a gestores incompetentes, desonestos e, muitos deles, famintos. Essa, sim, é uma dose dupla de veneno, capaz de trucidar o “homem de ferro”.

A Lei Anticorrupção foi uma das nossas grandes conquistas, mas “lei forte não implementada é como uma lei fraca”, afirmou, na semana passada, Pascal Fabie, diretor da ONG que combate a corrupção no mundo. Após dizer que essa lei abriu “uma janela de oportunidades para governo, comunidade de negócios e sociedade civil”, Fabie ainda acrescentou, em resposta a Ian Chicharo Gastim, em entrevista publicada em “O Estado de S. Paulo”: “Não acho que o Brasil é mais ou menos corrupto (do que outros países). A corrupção é mais visível aos brasileiros porque vocês estão de saco cheio”.

O ideal seria que a presidente Dilma Rousseff reconhecesse a sua parte no desastre, pedisse desculpas e se retirasse para cuidar da sua vida, pois ninguém, como se sabe, está acima da lei. Como esse gesto, se não é impossível, é, pelo menos, improvável, o melhor é dormirmos com a intenção de fazermos a nossa parte, na esperança de que a má gestão e a corrupção, daqui para a frente, sejam feridas de morte. E que, finalmente, as duas “conquistas tecnológicas” mundiais – “a cooperação e o fogo” –, referidas pela presidente, a ajudem a governar.

Nessa segunda-feira, vi na TV Brasil o programa “É Tudo Verdade: Sobral – O Homem que Não tinha Medo”, produzido por Augusto Casé. Fiquei emocionado. Lembrei-me do meu pai, que apareceu ao seu lado. Amigos durante a vida inteira, a primeira pessoa a ser visitada por Sobral Pinto em Belo Horizonte era meu pai. No fim, concluí: o que difere a atual crise das outras, a que aludi no início, não é a sua gravidade, mas, sobretudo, a ausência de homens como o dr. Sobral Pinto. E a culpa dessa carência – é preciso dizer – cabe à intervenção militar na universidade durante anos que afastou os jovens da política. A fé no direito e a fé na vida – pregou Sobral – é que salvarão o nosso país.

Só faltam os que as sustentem.

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