quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Voltar a ser pobre na Venezuela (E aqui?)

A inflação galopante leva milhares de cidadãos a cair na pobreza. Os programas oficiais de ajuda não são suficientes
Com um déficit orçamentário estimado em 20% do Produto Interno Bruto (PIB) e com os preços do petróleo ameaçando permanecer a menos de 50 dólares por barril nos próximos meses, o ano de 2015 se apresenta para a Venezuela como um ano de perspectivas catastróficas. Mas em um momento em que ainda não se concretizaram as dificuldades previstas para este annus horribilis da economia venezuelana, o relatório que acaba de ser publicado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), que estabelece com dados de 2013 que a pobreza está aumentando na Venezuela, representa um revés para o regime bolivariano.

O órgão da ONU destaca a Venezuela como o país com o pior desempenho em uma região caracterizada pelo estancamento do crescimento econômico e, por conseguinte, da mobilidade social. O relatório atinge fortemente o discurso do regime bolivariano, que, durante os governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, legitimou seus atos políticos através da invocação constante de seus êxitos, imaginários ou reais, no combate contra a exclusão e a pobreza. Os porta-vozes governamentais sistematicamente se defendem com reconhecimentos de entidades técnicas da ONU, como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) ou a própria Cepal, para dar credibilidade a suas vitórias.

O documento da Cepal sugere que a ascensão dos pobres na Venezuela foi superficial e volátil, sujeita ao vai-e-vem dos rendimentos com o petróleo e da vontade do Estado de repartir os lucros eventualmente produzidos.


Os programas de assistência social do Governo (chamados de “missões”), que em meio à crise poderiam servir para atenuar o empobrecimento, atendem apenas 10% das famílias pesquisadas. E o que é pior: o estudo determinou que quase metade dos beneficiários desses programas não é pobre. “Isso nos mostra que as missões não são abrangentes nem dão proteção social efetiva, porque não estão sendo concentradas no setor mais vulnerável da população”, ressaltou o sociólogo.
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O sociólogo España destaca que tudo isso mostra que durante os últimos 15 anos não houve na Venezuela um programa para combater a pobreza de maneira estrutural, mas apenas uma campanha de distribuição dos lucros do petróleo com um sentido assistencialista. “É preciso criar um plano autêntico de superação da pobreza, baseado no esforço e na produtividade”.


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