quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A depressão causada pelo futuro incerto desta cleptocracia


Recebi coincidentemente três mensagens nos últimos dias de pessoas que declaram não ter comemorado tradicionalmente a passagem de ano. Não encontraram motivos de alegria para prolongar a noitada. Sentimento de melancólica tristeza, apreensão e incerteza. São eles uma parte deste mundo verde-amarelo, captando as radiações do momento nacional. Que motivo têm de ter orgulho nacional? Quebra de autoestima brota das circunstâncias reais.

Confesso que, pela primeira vez na vida, eu também, um otimista contumaz, um desabrido enfrentador de dificuldades, não comemorei como de costume a passagem de ano. Arrumei um jeito de ficar sozinho, olhando da varanda para o céu, rezando. Sem copo e sem champanhe. Rezando para este mundo de jovens que vem aí. Rezando para que aconteça algo que alimente a esperança, a última a morrer.

Não tenho o que reclamar para mim, nada me falta, minhas exigências pessoais vão se encolhendo a cada ano, assim como se afunila o horizonte de vida. Peço a Deus que me evite a dor, mantenha minha mente lúcida e a vista suficiente para ler e aprender. Que mantenha o cálice amargo afastado, o resto é prêmio.

Mas no papel de pai, de condutor de empreendimentos, como gerador de empregos que envolvem famílias, feitas de gente, me assombro com tantas dificuldades. Uma situação a cada dia mais complexa, ninguém neste país fala de descomplicar, leis enganosas para sugar de quem trabalha e transferir para encastelados e corruptos instalados no topo da pirâmide do poder.

Já surge em muitos o sentimento da greve civil, deixar de pagar impostos para emparedar os governantes à moralidade. Mas isso também é ilusório e complicado. Entretanto, a não violência e a desobediência aos tiranos fizeram de Gandhi o maior político de todos os tempos.

Eu sou da geração que vestiu a camisa com flores, os jeans coloridos, usou cabelos compridos, adorava Bob Dylan, viajava de moto e dormia em qualquer lugar sem sentir desconforto. Um dos tantos que tinham no orientalismo uma referência. Quer saber como? Leia a biografia de Steve Jobs nas “loucuras juvenis”, que fizeram dele uma personalidade valiosa para este planeta.

Eu posso me dar luxos que já não me interessam, me sinto um Qoelet, me espelho no Eclesiastes, perdi as ilusões dos brilhos efêmeros do meio-dia. Prefiro as cores tênues do pouso do sol, aquelas que permitem ver com suavidade. Eu vou à praia quando os outros voltam e fico até o sol cair, sentindo a brisa sem protetor solar.

Prefiro de um Fiatzinho assistir ao desfile de carrões e me sentir seguro de não ser assaltado.

Felicidade não se mede em Ferraris na garagem ou no salão de casa, felicidade é não sentir falta de algo que não temos.

“Per aspera ad astra”, como sustentou Pietro Ubaldi, o caminho do sofrimento é o mais curto. Impérios se ergueram na capacidade de sacrifício, na seriedade e duraram até o momento em que os princípios éticos predominaram na condução do destino de uma sociedade.

Nada disso enxergamos hoje por perto, menos ainda no horizonte. Daí quem tem percepção costuma se encolher e ficar espectador do inevitável.

O Brasil está corroído pelo “bizantinismo burocrático”, que vem sempre associado ao imperar da corrupção. Democracia se transforma em cleptocracia. De um mensalão que desviou R$ 300 milhões se passa a um petrolão que amealhou R$ 21 bilhões. Se a progressão é essa, e a sociedade não tem como conter o avanço da imoralidade, pode-se prever que Sodoma e Gomorra serão incineradas muito em breve.

Tem esperança de evitar uma catástrofe? Gostaria sinceramente de enxergá-la.

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