Há pouco acompanhei, aturdido, a polêmica em torno de uma
proposta, que, por ser tão absurda, custei a levar a sério: de “traduzir”
clássicos da literatura brasileira para torná-los mais acessíveis aos leitores.
“Quero livros nas casas dos mais simples”, argumentou a autora do projeto, que,
com dinheiro captado por meio de renúncia fiscal, em junho distribuirá
gratuitamente 600 mil exemplares, em linguagem facilitada, de “O alienista”, de
Machado de Assis, e de “A pata da gazela”, de José de Alencar. Aguardei a
poeira baixar um pouco para fugir da armadilha de criticar a ideia de Patrícia
Secco sob o argumento corrente de que não se pode mexer no texto dos autores
porque isso é por demais óbvio.
O que me preocupa, na verdade, é a visão distópica que
alicerça a convicção de Patrícia Secco e de seus apoiadores, e que alimenta o
discurso da esquerda brasileira (aqui incluo petistas e tucanos e todos os
assemelhados). Ela afirma que, por causa do vocabulário, considerado difícil,
os jovens não gostam de Machado de Assis, o que é fato. Então, ao invés de
sugerir mudanças no sistema educacional, visando à melhoria do nível dos
alunos, Patrícia e seus apoiadores propõem “descomplicar” o texto do autor. Ou
seja, o problema não está no nosso péssimo sistema de ensino, que
historicamente vem sendo o instrumento mais eficaz de manutenção das
desigualdades sociais, mas no escritor que utiliza palavras por demais
sofisticadas.
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