sábado, 1 de fevereiro de 2020

O preço das epidemias

No ano de 541, uma epidemia mortal começou a espalhar-se rapidamente pelo Mediterrâneo, com consequências terríveis. A “praga de Justiniano”, como ficou conhecida por ter eclodido no reinado desse imperador, matou mais de metade da população europeia e acabou por contribuir para a queda do Império Romano do Oriente. Mais tarde, entre 1347 e 1351, uma outra epidemia, a da peste negra, voltou a assolar a Europa, matando mais de 100 milhões de pessoas, e fez mergulhar o continente numa crise de que demorou um século e meio a recuperar.

Estes dois exemplos históricos e ocorridos no nosso espaço geográfico são a perfeita ilustração de que as pandemias não matam apenas pessoas: elas destroem economias, alteram o modo de vida e condenam gerações. No passado, o contágio era mais lento, embora imparável. Agora, com mais de metade da população a viver em cidades e com meios de transporte acessíveis e rápidos, o perigo de contágio é muito superior e pode tornar-se igualmente tão destrutivo como no passado – com custos insuportáveis tanto em perda de vidas como na economia e no bem-estar das populações.

A mera possibilidade de dezenas de milhões de pessoas na segunda maior economia do mundo poderem ficar de quarentena por causa do surto do coronavírus já fez estalar, por exemplo, os alarmes entre investidores e economistas. O que acontecerá ao comércio mundial se as fábricas do maior exportador do planeta ficarem impedidas de enviar os seus produtos para o exterior? E quais serão as ondas de choque nos países cujas economias estão centradas na exportação de matérias-primas para a China? Por outro lado, se milhões e milhões de chineses ficarem impedidos de viajar, durante um período prolongado, podemos assistir a algo inédito nos últimos anos: a diminuição do número de turistas no mundo.

A boa notícia, tendo em conta a cooperação científica internacional a que se está a assistir, é que esta crise pode funcionar como um alerta para prevenir futuras pandemias e obrigar os governos de todo o mundo a desenvolverem aquilo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) pede há anos: um plano de prevenção e contingência, à escala planetária. Ou seja, um plano em que todos os países saibam o que devem fazer, sem perder tempo, de forma a coordenarem uma resposta à escala global. Segundo a OMS, um programa desse género custaria à volta de um euro por habitante por ano. É muito? A resposta sem plano, como se está a ver, será sempre muito mais cara.

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