sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Planos para o passado

Eu queria escrever aqui alguma coisa que fizesse sentido em meio a esta absurda distopia em que estamos metidos. Mas não consigo. A realidade me engole, mastiga e me cospe. Eu só queria dizer que tenho um monte de motivos para acreditar que vai dar tudo certo, e que vamos sair desta ainda mais fortes como nação. Mas não posso. Os diários populares saltam na minha garganta e me sufocam cotidianamente. Eu ficaria feliz da vida se no horizonte, mesmo que distante, assim, apagadinha, alguma esperança acenasse com um lenço branco. Mas não vejo sequer a miragem de uma saída honesta. Muito antes pelo contrário. São trevas que nos assolam. Há em curso um movimento de ataque à inteligência e às liberdades individuais. Seria prazeroso trazer aqui as últimas conquistas nas áreas da ciência e da pesquisa, os resultados dos nossos projetos em educação e saúde. Mas foram todos guilhotinados. Serviram suas cabeças em bandejas de nióbio. Como me faria bem revelar, em primeira mão, algum avanço, qualquer que seja, na direção de um futuro digno. Acontece que estamos marchando em uma esteira elétrica ensaboada, os que ainda não caíram não saem do lugar. É triste. É mais que triste. É nojento. Alguém poderia, por favor, me trazer um Fontol?! Perdoem, caríssimos, minha desesperança, mas é que eu não consigo mais fingir que não é comigo. Não me comove fazer planos para o passado.

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